Olho d'água, v. 3, n. 1 (2011)

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A bifurcação antuniana: o eu e outro infernais

Andréia Régia Nogueira do Rego

Resumo


 

A narrativa literária é um palco privilegiado para as manifestações intertextuais. Os diálogos entre textos processam-se em diversas modalidades de retomada: aleatória, consentida, submissa, subversiva. Neste último caso, um texto retoma outro, subvertendo-o. Mas pode ocorrer um novo fenômeno quando um texto, já marcado pela subversão do cânone, torna-se alvo de retomada: aparentemente a intertextualidade comporta mecanismos que promovem uma espécie de “subversão da subversão”. É o que se pretende examinar neste estudo, com foco em uma narrativa-fonte como Zero (Brandão, 1975) e em Eles eram muitos cavalos (Ruffato, 2001). Em Zero, apresentam-se características fortemente anti-canônicas, com a contestação da ordem institucional ou social indissoluvelmente ligada à contestação do padrão estético usual em narrativas, ou seja, da escrita tradicional. As manifestações do “contra” ancoram-se no imbricamento entre os componentes temáticos de inconformismo e rebeldia, e os componentes formais radicalmente inovadores. Um quarto de século depois, em Eles eram muitos cavalos, Ruffato cria uma narrativa com proposta estética e temática bastante semelhante à de Zero. Recorre-se, neste estudo, ao exame de recursos intertextuais presentes nessas narrativas, no intuito de discutir de que maneira a narrativa se reinventa, por meio do experimentalismo, ou radicaliza o próprio tratamento temático, no contexto sociocultural deste início de século.


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