Olho d'água, v. 6, n. 1 (2014)

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Memória, Rastro e Ditadura Militar Brasileira em Bernardo Carvalho / Memory, Trail and Brazilian Military Dictatorship in Bernardo Carvalho

Milena Mulatti Magri

Resumo


A memória dos anos de ditadura militar brasileira é frequentemente abordada na literatura brasileira contemporânea. O romance Os bêbados e os sonâmbulos (1996), de Bernardo Carvalho, recupera de modo fragmentário passagens desse período conturbado e pouco compreendido da história recente do país. Propomos uma leitura do romance a partir da figura do chiffonnier do filósofo Walter Benjamin (“Paris do Segundo Império”, 1989). O chiffonnier é aquele que vive das sobras e daquilo que não tem serventia aparente. É uma imagem do rastro, do vestígio e da memória. O romance de Bernardo Carvalho apresenta uma narração que se constitui da recolha de histórias aparentemente desconexas que dialogam entre si por meio dos detalhes, do periférico em cada uma delas. Além disso, apontamos para a centralidade da noção de testemunho, no romance. Este se relaciona, ao mesmo tempo, com a construção da memória da ditadura militar brasileira e com a elaboração de uma narração fragmentária, que não consegue apresentar de modo linear um evento vivenciado como trauma. O testemunho se faz presente, no romance, a partir de diferentes perspectivas: a experiência do sobrevivente; a narração incompleta; o rastro. Por fim, destacamos, na leitura do romance, a metáfora do risco iminente da perda da memória dos anos de ditadura militar na imagem da doença.

 

The memory of the Brazilian military dictatorship is frequently discussed by the contemporary Brazilian literature. The novel Os bêbados e os sonâmbulos (1996), by Bernardo Carvalho, recovers by a fragmentary way moments of this troubled and mistaken period of the recent history of the country. This paper proposes a reading of the novel from the figure of the chiffonnier proposed by philosopher Walter Benjamin. The chiffonnier survives from scraps and what does not have apparent usefulness. He is the image of the trace, of the vestige and of the memory. Bernardo Carvalho’s novel presents a narration which constitutes itself by collecting apparently disconnected histories which dialogue between themselves by details, by what there are of peripheral on each ones. Furthermore, the paper points to the importance of the notion of testimony, in the novel. It is related to, at the same time, the construction of Brazilian military dictatorship memory and the elaboration of a fragmentary narrative, which cannot presents linearly a traumatic event. The testimony is present on the novel by different perspectives: the survival experience; the incomplete narration; the trace. Lastly, we point on the reading, the metaphor of the imminent risk of losing the memory of Brazilian military dictatorship years on the image of the disease.


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