Estética e Crítica Social na Narrativa de Caio Fernando Abreu durante a ditadura militar: um espaço de resistência / Aesthetics and Social Criticism in Caio Fernando Abreu's Narrative During the Brazilian Military Dictatorship: a Space of Resistance
Resumo
A produção literária brasileira nos anos 1970, especialmente no campo da narrativa, foi fortemente marcada por uma conexão entre uma crítica social ao regime militar e um esforço por inovações estéticas na expressão dos textos. No presente artigo, investigamos os principais aspectos que marcaram essa literatura, tanto formal como materialmente, tomando como principal referência os contos de Caio Fernando Abreu. Na análise das narrativas da época, vemos como se deu a assunção de valores propagados por nossa literatura desde o advento do Modernismo, passando pelo romance social da década de 30 e as vanguardas poéticas da década de 50. A novidade da geração que publicou nos anos 1970 consiste na reunião de aspectos como inovação estética e denúncia social num único espaço textual, o que os levou a adquirir novos significados por meio de sua fusão em uma realidade de intensa repressão social. Nesse esteio, as experimentações formais se revelam fundamentais para internalizar o contexto histórico na estrutura das narrativas dos anos 1970. Ao abordar temas como violência, repressão, exclusão social e fuga da realidade, os romances e contos se veem obrigados a reunir recursos formais associados à literatura moderna, especialmente quando consideramos que a exposição de temas polêmicos por meio da narrativa tradicional facilitaria sua censura. Logo, a reiteração desses recursos vai além de uma mera opção dos autores: ela se revela fundamental para que se possa representar o contexto histórico. Também a representação de temas tão complexos e carregados de um profundo deslocamento em relação a um discurso social tradicional enseja uma escrita em que a fragmentação da narrativa medeia literariamente a fragmentação social que marca os anos de ditadura e eleva o recurso da arte narrativa a uma forma de resistência.
The Brazilian literature of the 1970’s, especially in the field of narrative, was strongly marked for a connection between a critical to military government and an effort for esthetical innovations in the expression of texts. In the present article, we investigate the main aspects of this literature, the formals aspects as well the materials ones, taking as principal reference the short stories of Caio Fernando Abreu. Analyzing the narratives of that time, we see how happened the appropriation of values present in our literature since the Modernism, going through the social novel in the 1930´s and the poetical avant-gardes in the 1950´s. The novelty to the 1970´s writers consists in put together aspects as esthetical innovations and social denouncement in only a textual field, what made the narrative to acquire news significations by the fusion of these aspects in a reality of intensive social repression. In this way, the formal experimentations reveal themselves as fundamental to internalization of historical context in the narratives structure of 1970´s. Talking about themes as violence, repression, social exclusion and scape from reality, the novels and tales force themselves to reunite formal means from modern literature, specially while we consider that the exposition of such polemic themes would make censorship easier. So, the reiteration of these resources goes beyond a mere option of the writers: it reveals itself fundamental to the representation of historical context. Also, the representation of themes so complexes and dislocated from a traditional social discourse asks for a writing in which the fragmentation of narrative mediates literarily a social fragmentation that marks the years of Dictatorship and elevates the resource of narrative art to a way of resistance.
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