Mato Eles? (1982), reconhecidamente um clássico do documentário brasileiro, introduz na obra de Sergio Bianchi muitos – talvez mesmo a maioria – dos procedimentos e obsessões cinematográficos que acompanharão seu trabalho dali por diante. O texto que se arma a seguir visa discutir não só algumas balizas do campo do cinema documentário, mas a maneira heterodoxa como Bianchi se utilizará de algumas das tradições desse campo, fundando a sua própria forma de fazer ficção a partir dessa experiência. De passagem, o artigo visa dar algumas indicações de como tanto a categoria da resistência estético-política quanto da etnografia – muito enraizada em certa tradição do cinema documentário – são reperspectivadas pelo trabalho do diretor, nesse filme em especial.

Mato Eles? (1982), a classic in the Brazilian documentary tradition, inaugurates, in the work of Sergio Bianchi, many – if not most – of the cinematic procedures and obsessions that would be present in his work onwards. The present article aims at discussing not only some of the questions belonging to the documentary field, but also the unorthodox way in which Bianchi uses some of its traditions in his own personal way, mostly in fictional cinema. Meanwhile, this article brings to discussion how the aesthetic and political category of resistance, as well the ethnography one, present in the documentary tradition, are shifted and twisted by the work of the director, and specifically in Mato Eles?.