Olho d'água, v. 9, n. 1 (2017)

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A bela e o eunuco (a propósito de algumas dissonâncias na charmosa burguesia do cinema de Manoel de Oliveira)

Renata Soares Junqueira

Resumo


RESUMO: O cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015) parece fiel a um método disjuntivo de composição cinematográfica que provoca sistematicamente choques nos seus espectadores de modo a dificultar a identificação com o que na tela se apresenta. Neste ensaio, trataremos de um dos procedimentos que tendem a fortalecer tal método e cujo efeito sobre o espectador convém avaliar com especial cuidado em virtude do seu forte potencial irônico: é o da inserção de figuras dissonantes – coxos, mutilados e supostos eunucos – no conjunto das personagens elegantes que perfazem os requintados círculos sociais burgueses retratados em muitos dos seus filmes.

 

PALAVRAS-CHAVE: Cinema e Teatro; Cinema Épico; Dissonâncias; Manoel de Oliveira.

 

ABSTRACT: The Portuguese filmmaker Manoel de Oliveira (1908-2015) seems faithful to a disjunctive method of film composition that systematically causes shocks to his viewers in such a way that it makes the identification with what is shown on the screen very difficult. In this paper we will reflect on one of the procedures that tend to strengthen this method and which has an effect on the viewer that should be evaluated with special care due to its strong ironic potential: it is the insertion of dissonant figures – lame, maimed people and alleged eunuchs – in the set of elegant characters that make up the exquisite bourgeois social circles depicted in many of his films.

 

KEYWORDS: Film and Drama; Epic Film; Dissonances; Manoel de Oliveira.


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