Olho d'água, v. 2, n. 1 (2010)

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GREGÓRIO DE MATOS: O ESTATUTO DO SILÊNCIO ROMPIDO

Luzia Aparecida Oliva dos Santos

Resumo


Este artigo propõe uma leitura de dois poemas de Gregório de Matos que revelam a inserção do indígena, ou melhor, de signos originários de sua cultura, na representação do caráter local em contraposição à estrutura hegemônica da tradição europeia. A reflexão se faz a partir do uso do léxico tupi, que traduz a consciência crítica do poeta diante de um dos momentos importantes da formação cultural brasileira. É do paradoxo formado a partir dos aspectos da diferença entre local e estrangeiro que Gregório de Matos desestabiliza o discurso do cânone, e utiliza a língua do nativo como fator básico na construção da imagem de uma nação que se forma a partir dos mesmos aspectos paradoxais. O alvo é a mestiçagem, pautada na herança do passado histórico do colonizador, que será desvestido de sua condição simbólica pelo viés da antropofagia e do lúdico, o que estabelece a correlação dos dois universos presentes. Nos poemas, o índio é presença não em sua força física ou na fidelidade ao seu senhor, nem tampouco na execução de suas atividades rotineiras; eles abreviam o curso de apropriação desses fatores e vão diretamente ao que o nativo tem como instituição: a língua.

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