Dança da morte, escrita da vida: narrativas da AIDS, espaço biográfico e escritas de si nas obras de Caio Fernando Abreu e Hervé Guibert
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar alguns aspectos do romance À l’ami qui ne m’a pas sauvé la vie (1990), de Hervé Guibert, e o conto “Depois de agosto” (1995), de Caio Fernando Abreu. Na obra dos dois escritores há um entrecruzamento entre vivência factual e trabalho ficcional que os insere no campo sempre problemático das chamadas escritas de si. A emergência da concepção do espaço biográfico (ARFUCH, 2010) como um conjunto de procedimentos descontínuos que se configuram na estratégia de narrar a si mesmo explica, em certa medida, tanto o gesto de Guibert de narrar a si mesmo a partir de um discurso aparentemente referencial quanto o apagamento das marcas da vivência factual, procedimento comum à obra de Abreu. Nesse sentido, as obras de ambos os escritores parecem confluir para uma noção de resistência à morte e, ainda, para a valorização da instância autoral enquanto portadora do gesto de narrar.
The present work aims to analyze some aspects of Hervé Guibert's novel À l'ami qui ne m'a pas sauvé la vie (1990), and the tale "Depois de Agosto" (1995), by Caio Fernando Abreu. In the work of the two writers there is a connection between factual experience and fictional work that place them in the always problematic field of the so-called written self. The emergence of the biographical space conception (ARFUCH, 2010) as a set of discontinuous procedures that configure itself in the strategy of narrating oneself, explains to some extent both Guibert's gesture of narrating himself from an apparently referential discourse and the erasure of the marks of factual experience, a procedure common to Abreu's work. In this sense, the works of both writers seem to converge to a notion of resistance to death and, still, to the valorization of the authorial instance as bearer of the gesture of narrating.
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