Interlúdio. Duas mulheres nigerianas, uma experiência privada
Resumo
Diversos autores, seja de ficção, seja de teoria e crítica literária ou cultural, analisaram, nas últimas décadas, a emergência de novas identidades sociais e culturais. Nos trabalhos desses pensadores, estudou-se tanto a consolidação discursiva dessas novas identidades quanto suas formas de reivindicação de espaço e voz na configuração das coletividades contemporâneas, ora mais, ora menos resistentes ao estabelecimento de tais atores sociais. Nesse processo, formou-se a crítica feminista, bem como as várias militâncias de gênero, as religiões minoritárias, entre outros, e fortaleceu-se a penetração das demandas culturais e políticas das agendas étnico-raciais. Todavia, um efeito dessa recente convergência de forças liberadoras foi o surgimento de novos – ou o fomento de velhos – discursos segregacionistas e neonacionalistas ou neossexistas baseados, paradoxalmente, em argumentos comuns aos dois lados desses importantes movimentos políticos e culturais. A detecção de um aumento na incidência de casos de homofobia nas ruas e de racismo nos estádios esportivos é apenas um exemplo entre numerosos outros tipos de manifestações análogas de violência física e moral/discursiva. Em meu texto, discuto o conto “A private experience” (Uma experiência pessoal), de autoria da jovem escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Em minha análise, procuro demonstrar como a narrativa faz do relato um espaço – uma heterotopia, talvez – para a conversação – na acepção cosmopolita conferida ao termo por Kwame Anthony Appiah – entre membros de universos culturais não apenas diferentes como também extremamente antagônicos.
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