A polissemia de trânsitos sociais e narrativos em Tropic of Orange, de Karen Tei Yamashita
Resumo
No romance Tropic of Orange, da escritora norte-americana Karen Tei Yamashita, publicado em 1997, personagens de origens étnicas e nacionais variadas se encontram e desencontram na cidade de Los Angeles, configurada como uma metrópole à beira do colapso em termos humanos, sociais e físicos. A narrativa põe em ação um panorama polifônico das agruras, conquistas e perplexidades de sujeitos vivendo em um mundo caracterizado pelo movimento contínuo de populações e de sentidos que surgem em consequência da globalização de mercados, econômica e midiaticamente sem fronteiras. Ao colocar em cena os embates de imigrantes e de populações à margem da sociedade capitalista triunfante, Karen Tei Yamashita problematiza experiências de personagens que cruzam fronteiras físicas, mentais e até supra-reais. Nesse último caso, o uso de elementos de realismo mágico auxilia a configuração de discursos multifacetados, enunciados por habitantes dos grandes centros urbanos de uma sociedade pós-industrial e multicultural, em constante questionamento de identidades, tradições e influências a que todos estão infensos. Ao utilizarmos o arcabouço teórico de Bakhtin, especialmente do dialogismo, de Baudrillard e de Homi Bhabha, pretendemos demonstrar como a escritura da romancista logra executar um caleidoscópio narrativo-cultural, vocalizando as perplexidades e agruras da experiência contemporânea, ao mesmo tempo em que potencializa as experiências híbridas de identidade(s) sendo negociadas e do confronto entre concepções hegemônicas de Primeiro Mundo e de Terceiro Mundo, no que esses dois termos têm de mais problemático. Nesse universo ficcional em que “trânsito” percorre todo um espectro polissemântico, cabe ao olhar crítico e arguto de escritores como Karen a delicada tarefa de dar um corpo e voz temático-narrativos a tais múltiplos deslocamentos, que se entrecruzam e multiplicam.
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