Olho d'água, v. 1, n. 1 (2009)

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Uma Leitura: a Memória e a Festa em Lucano – Pharsalia, X, 106 - 86

Aécio Flávio de Carvalho

Resumo


O objetivo deste artigo é afirmar a importância do papel do poeta latino Lucano no processo evolutivo da narrativa. Entre as inúmeras críticas que suscitou desde o seu aparecimento, nenhuma negou a Lucano o mérito de fazer o registro de fatos ainda recentes na memória da sua época; aliás, é este conteúdo distintivo do seu trabalho que mais nutre a crítica tendenciosa a diminuir-lhe o valor literário. É a esta característica que, nesta comunicação, dar-se-á relevo, para reafirmar o que já é consenso: que, propondo-se a uma narrativa de fatos históricos, Lucano inaugura uma vertente diferenciada da narrativa épica; ainda um elo de contato com a tradição, seu poema Pharsalia constrói, igualmente, uma consciente ruptura com o passado, com o padrão épico representado por Homero e Virgílio. A Pharsalia (ou Bellum Civile) abre a perspectiva para a elaboração de uma narrativa literária capaz de traduzir a evolução dos tempos, iniciando um processo que vai, enfim, culminar numa expressão estética inovadora, o romance, por isso mesmo entendido como epopéia de uma sociedade transformada, a sociedade burguesa. Lucano, entretanto, não fixou a dimensão da novidade latente em sua obra, enfatizando, ao invés, a perda dos valores tradicionais, num poema carregado de angústia; por isso, na Pharsalia não há alegrias. Um único episódio explicitamente festivo do poema embasa as reflexões desta comunicação: Cleópatra oferece um banquete a César. Nessa passagem, o ponto de partida para comentários sobre aspectos textuais e conteudísticos dados pela crítica como característicos do das inovações de Lucano.


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